sábado, 5 de fevereiro de 2011

crônica - O Mágico



O mágico ou ilusionista é aquele que sabe nos manipular, sabe brincar com nossa previsibilidade, habilitando o impossível ou improvável, e com isso nos facinar. Pode acontecer também dele nos horrorizar, dependendo da mágica, sobretudo se ela falhar. Seja como for, não é isso que fazem os narradores, nos mergulhar em ilusões?

Para o que quero dizer, convém falar dos animadores — um entre tantos tipos de narradores. Sinto uma graça boba ao reparar no meio de uma animação que posso estar me emocionando com os desenhos. A graça vem no momento em que me dou conta de que tudo é uma ficção. Se é tudo um truque, como pode isto me produzir emoções reais?

Não por acaso, um dos livros mais importantes de animação se chama "The Illusion of Life". Ou seja, animar é a arte de produzir ilusão de vida. Isso serve pra qualquer tipo de narração também.

Saindo da sessão de "O Mágico", de Sylvain Chomet, fui surpreendido por um senhor que parecia ser um morador de rua. Inusitadamente, ele só falava inglês, e me perguntou se eu o entendia. Respondi que não, e ele insistiu e começou a contar a história dele, falando que sofreu um acidente, perdeu as coisas e agora não tinha dinheiro pra comer. Talvez porque ainda estava sob influência da sessão de "O Mágico", talvez porque ele falava inglês tão bem, sendo tudo aquilo verdade ou não, caí na conversa dele.

A verdade é que se a desilusão pode vir ao descobrir que mágicos não existem, também deve-se considerar que por sermos incapazes de perceber a realidade tal como ela é, somos todos, no fundo, iludidos. So what?

Então assistam ao "O Mágico" e se encantem com essa maravilhosa animação.



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